Associação Brasileira das Indústrias de Artefatos de Couro e Artigos de Viagem

13/05/2020

Fábrica de bolsas passa a produzir máscaras para somar esforços na luta contra o coronavírus

Proprietária fala sobre alternativa encontrada para manter funcionamento do negócio e ajudar o país no momento de crise

 

Em meio à crise de Covid-19, classificada como pandemia pela Organização Mundial da Saúde há quase um mês, em 11 de março, a dinâmica de muitas empresas está mudando. Entre demissões, suspensões e fechamentos de diversos negócios, a Mara Spina, marca que fabrica bolsas de couro, encontrou sua própria forma de se manter em funcionamento e, ainda por cima, contribuindo com o controle do vírus.

Mara Spina, proprietária da marca, conta que após o choque de realidade com essa nova doença, vendo as clientes com as lojas fechadas, a produção parando e sem perspectiva para os próximos meses, teve a ideia de adaptar a linha de produção. Foi aí que a fábrica começou a produzir máscaras de tecido.

Feito com duas camadas de tecido 100% algodão, o “acessório” é apropriado para pessoas sintomáticas ou não. “Servem como uma barreira física que ao falar, tossir ou respirar evita a disseminação de gotículas que podem contaminar outras pessoas”, explica Mara. O Ministério da Saúde recomendou que toda a população comece a utilizar máscaras, caso seja necessário sair de casa.

Conversamos com Mara para entender melhor os impactos da pandemia no dia-a-dia de sua fábrica.

Como teve a ideia de produzir máscaras?

Mara Spina: Logo que começaram os rumores que poderiam fechar as lojas e essas coisas todas, no final de março, eu pensei “isso [máscara] vai ser uma coisa que todo mundo vai precisar” e eu já estava visualizando isso nos outros países. Quando eu já estava fazendo um protótipo de máscaras saiu a notícia de que, sim, as lojas iam entrar em quarentena. Aí fiz uma modelagem, cheguei pras minhas funcionárias e disse: “olha, agora nós vamos produzir máscaras”. Ficou todo mundo me olhando achando que eu estava ficando louca, mas expliquei que seria uma coisa necessária. Então comecei a fazer algumas.

Encontrou dificuldades para adaptar o maquinário e orientar os funcionários?

MS: Nossas máquinas todas são próprias para costurar couro e são máquinas mais pesadas. A gente adaptou algumas para poder produzir uma coisa mais leve, que são as máscaras de tecido. Houve alguma resistência, um pouco, por parte dos funcionários à primeira vista, mas depois eles começaram a perceber que, sim, aquilo podia dar certo. E sobre treinar o pessoal para esse produto, pra quem faz bolsas do tipo que a gente faz, com alta qualidade e alto grau de dificuldade, fazer uma máscara é uma coisa muito simples. Então, depois disso começou a correr normalmente.

Vocês estão comercializando as máscaras? De que forma?

MS: À medida que a gente começou a avisar as pessoas que estava fazendo, já tinha começado a vender, e depois fiz uma única postagem nas redes sociais e a gente começou a ter vários pedidos. Começamos a fazer e durante todo o mês de abril fabricamos. Temos pronta-entrega e um “estoquezinho”.

A produção de bolsas parou completamente?

MS: Quando a gente decidiu fazer as máscaras, ainda tínhamos serviços e trabalho de bolsas para fazer em acabamento, como ainda tem até agora também. É óbvio que a parte de bolsa caiu, faturamento foi a zero porque os pedidos que teríamos para fazer em abril não foram feitos, todas as lojas que ficaram fechadas não querem os pedidos agora. Algumas pediram pra entregar mais pra frente, quando acabar isso. Nosso mercado está todo parado. Mesmo as clientes que estão tentando fazer vendas online, estão com muito problema, não tá simples, tá muito difícil. Nós continuamos terminando bolsas que tínhamos ainda para entregar, as coisas que a gente acha que o cliente ainda quer e, ao mesmo tempo, fazendo as máscaras. Então começou uma linha de produção paralela à linha de bolsa.

A produção das máscaras está dando conta de pagar as despesas?

É uma coisa que não faz frente nem 20% da nossa despesa, da nossa necessidade de caixa. As máscaras estão servindo para pagar as despesas estritamente necessárias que vão aparecendo, paga uma coisinha ou outra. Está ajudando mas, não posso falar que dá pra substituir o faturamento de bolsas.

Precisou reduzir o quadro de funcionários?

Eu não mandei nenhum funcionário embora não, por enquanto estão todos contratados na fábrica, mas agora estou vendendo o que nós temos em estoque e os funcionários eu coloquei com o contrato suspenso, em meados de abril. Agora vamos ver, temos que aguardar. Pedimos prorrogações da maioria dos fornecedores e também tivemos que dar prorrogações para praticamente quase todo mundo.

Qual sua expectativa para os próximos meses?

Eu acho que ainda vai ser bem difícil. A gente vinha de um ano de recessão mas, em janeiro, fevereiro e março, estava até dando uma animada de ser um trimestre um pouco melhor do que foi o de 2019. Com a chegada do corona tudo isso já caiu por terra. Nós já estávamos entregando nosso inverno e o restante seria em abril, aí houve tudo isso. Os lojistas estão estocados, então eles não tem porquê fazer pedido para nós, para as indústrias. Eles vão demorar a vender tudo que têm, com toda essa dificuldade e com lojas fechadas. Então acho que ainda vai demorar a nossa recuperação, não vai ser em maio, nós vamos continuar ainda desse jeito sem poder vender ou vendendo alguma coisa que a gente tenha no estoque, mas para a indústria não vai funcionar quase nada. E depois, não sei como é que vai ser. No nosso segmento temos feiras e elas foram todas canceladas por enquanto, não se sabe ainda se vai ter ou não. Enfim, acho que nosso ano já está afetado por isso.

Você acha que, após essa crise, acontecerão mudanças no seu negócio e no mercado?

MS: O que vamos poder fazer é uma análise de tudo, de como a gente vem trabalhando. Talvez pensando mais ali na frente, nossa tendência seja canalizar tudo para venda online. Eu acho que vai ser o futuro mesmo. Não vai dar para voltar a fazer muitas coisas como a gente vinha fazendo.

Para conhecer o trabalho, você pode encontrar a marca no instagram, clicando aqui.